sexta-feira, junho 03, 2005

Mãe

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Em Lisboa, ainda.

...e as palavras que não querem sair, que teimam em ficar na minha garganta e que eu vou engolindo, lentamente, aspirando e que me afogam, lentamente...

Está a ser mais difícil do que disseste que ia ser, Mãe. Está a ser tão difícil. Dói tanto esta rotina diária. Dói tanto esta realidade que a pouco e pouco entra em nós e nos choca, pela crueza, pela frieza, pela dureza da sua face.

Está a ser mais difícil que uma adolescência, Mãe, que essa pelo menos traz-nos paixões e força. Aqui apenas vejo desilusões que me consomem as forças, devagarinho, enquanto tenho que tragar estas colheradas de dor diárias, como um xarope que me davas quando me faltava o ar.

Também agora me falta o ar, Mãe. Também agora morro devagarinho aqui.

São tantos sonhos, Mãe, são tantas ideias que me abandonam, tão lentamente que consigo senti-las a escorrer-me pela pele, a saír de mim.

E é tudo tão só, Mãe. É tudo em tanta solidão, são tantos (somo tantos!) em tanta solidão.

As peças do puzzle não encaixam, Mãe, estes 26 anos não encaixam em mim (nunca a minha idade encaixou...). Não faz sentido, Mãe. O único sentido que reconheço neste caos é o caminho de regresso a casa. Aos teus braços, Mãe. E não sei porque razão não o faço. A distância dos meus braços aos teus sempre foi tão curta, do meu peito ao teu. As saudades sempre estreitaram e encurtaram os nossos caminhos.

Não sei porque não o faço Mãe.
Sinto que o meu lugar é ao pé de ti, sozinha ou acompanhada. A noção (e construção) de família é para a tua filha mais velha, eu sempre fui a que vivia no mundo dos sonhos, porque esse mundo me chegava. E agora já não chega. Não chega, Mãe. Só me chegam os teus braços, que agora não estão todas as noites à minha volta, para me aconchegar, quando me deito, apago as luzes e murmuro: "Tenho saudades da minha mãe...".




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